
Estacionei o carro, tranquei-o e sai correndo.
Era minha hora no dentista e eu estava atrasado.
Enquanto estacionava, vi uma flor nascida na sarjeta
reblilhava ao sol, num tom de laranja alegre e vivaz,
contrastando com alguns raminhos verdes, tendo por
fundo apenas o asfalto escaldante.
Era na verdade um matinho sem valor, um único arbusto num
lugar árido e tristre, mas que a mim pareceu mais valioso que uma
tela de pintor renomado, tal a alegria que, sózinho, ele estava
transmitindo naquela paisagem tão árida.
Ao entrar no consultório, fui informado que haveria um pequeno
atraso.
Então voltei para o meu pequeno e solitário arbusto e, sem cerimônia,
sentei-me na calçada e deixei-me atravessar pela beleza das pétalas
rebrilhando ao sol.
Afagando-as carinhosamente entre as mãos, eu disse:
- Feliz de mim que tenho olhos para ver o seu esplendor.
- Feliz de mim que, por sua causa, estou sentindo tanta ternura.
- Feliz de mim que me permito assistir ao espetáculo pelo
qual você nada me cobra.
- Feliz de mim que compreendo que Deus se manifesta nos
lugares mais inesperados...até mesmo na sarjeta.
- Feliz de mim que hoje a nomeio a deusa desta rua tão árida.
- Feliz de mim e de Você, que não precisamos de nada nem de ninguém,
nem de pompa, nem de circunstância, para fazermos a nossa festa e
entoarmos o nosso louvor.
Fátima Irene - poeta e amiga
Nenhum comentário:
Postar um comentário