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Com frequencia olho para as estrelas. Sua luz distante, perdida, uma luz de anos que já passaram e se perderam. Me sinto criança então, imagino como seria bom se elas caíssem e eu pudesse abraçá-las e brincar com elas. E ao as observar,vejo um universo perfeito e em harmonia. Silencioso e infinito, Deus nos olhando a distância, apenas observando.
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Mas a criança que existe em mim, teve que aprender a navegar sobre águas turbulentas. Teve que aprender a ver as injustiças, o descontentamento dos outros seres em minha volta. Teve que aprender a viver com o descaso e a indiferença. Entre algum momento do ontem e do agora, a criança que existe em mim, começou a ver e olhar, escutar e ouvir. E as imagens e os sons, se tornaram fragmentos de sonhos e pesadelos daquilo que esta rapidamente se aproximando.
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A criança se tornou um velho, mas, apenas em corpo, a alma, presa neste velho corpo quer sair, grita pela liberdade.
E é esta alma, que percebe o que foi feito e o que irá sobrar. Destroços, pedaços daquilo que uma vez pareciam tão importante aos homens. Apenas lascas da sua ignorância e prepotência. A pequena alma se transformou num corvo, que apenas observa em silencio e grasna algumas vezes,como que dizendo: parem, parem de destruir a vida!
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A pequena alma, quase insignificante diante do grande Deus, voa livre e assustada com o que encherga.
Compara o mundo de antes e o do amanhã, e pior, sabe que não haverá este amanhã.A alma sente mais do que o corpo e o sangue, estes, não importam, jamais poderão estar lado a lado com Deus, mas a alma, ela vem de Deus, ela é pura e submissa.
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E a alma, em forma de pequeno corvo, segue adiante. Ve no horizonte os sinais da estupidez dos homens. Ve o quanto se tornaram escravos de suas próprias ambições. O querer sempre mais, o ter sempre mais, mesmo não sabendo a razão deste querer e ter.
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A pequena alma se entristece, tenta mais uma vez grasnar uma advertência, pois sabe o que prevalece no destino do homem. Mas a maioria das outras almas se deixou dominar pelo corpo e pelo sangue. Se tornaram escravas, assim como o homem de sí mesmo.
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Não sabem mais o significado do voar livre, afinal, o corpo e o sangue, transformaram o mundo num deserto, o mesmo deserto no qual se tornou o homem. Um deserto de indiferenças, um deserto onde procuram algo, que nem mesmo eles sabem mais o que é.
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Algumas ainda gritam, tentam sair e voar,mas se assustam diante do que enchergam. Se amedrontam diante dos crimes do homem e há muito tempo, se esqueceram que existe um Deus. Assim, sem se lembrar de onde originaram, se acovardam e se submetem ao homem. Escravos dentro de escravos, cativos dentro de sí mesmo. Amedrontados pela liberdade, pela verdade e pela verdadeira vida.
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As almas não mais se importam com seu próprio destino. Não imaginam no entanto, que seu destino será o destino do corpo e do sangue. Seu destino será o destino dos homens. Poucas, muito poucas serão libertas. Em sua prepotência e indiferença, se condenaram a sí mesmas.
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E eu, a alma de criança que ainda grasna e grita, em forma de pequeno corvo, continou a observar à distância o que esta se aproximando, muito rapidamente, mais do nunca, rapidamente se aproximando. E apenas posso dizer o que já foi dito: quando o inevitável chegar, não corram, não voltem para buscar algo que esqueceram, apenas sigam em frente, ou pemaneçam parados onde estiverem. Aquele que tentar salvar a sua vida irá perder a mesma. Mas aquele que perder a sua vida, este, a terá reencontrada.
(Siegmar)
Que lindo. Isso é digo de um livro para estar nas bibliotecas e passar de mão em mão.
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