''DO NOT ABANDON YOUR BEST FRIEND''

O CÃO É O ÚNICO QUE NÃO SE IMPORTA SE VOCÊ É RICO OU POBRE, BONITO OU FEIO. O CÃO É O ÚNICO QUE REALMENTE SENTE A TUA AUSÊNCIA E SE ALEGRA DE VERDADE COM O TEU RETORNO, PORTANTO, JAMAIS ABANDONE SEU MELHOR AMIGO.



UM RAIO DE LUZ

''UMA ANTIGA LENDA DIZ QUE QUANDO UM SER HUMANO ACOLHE E PROTEGE UM CÃO ATÉ O DIA DE SUA MORTE, UM RAIO DE LUZ, QUE NÃO PODEMOS ENXERGAR DESTE PLANO DA EXISTÊNCIA, ILUMINA O CAMINHO DESTE SER PARA SEMPRE!''





segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

NADA MAIS RESTA A DIZER....

"Mesmo  o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele  realmente conhece", observou Nietzsche. É o meu caso. Muitos pensamentos  meus, eu guardei em segredo. Por medo.Alberto Camus, leitor de  Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem         chega:
"Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos". Tardiamente. Na velhice. Como estou velho, ganhei  coragem.
Vou dizer aquilo sobre o que me calei: "O povo unido  jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.
Em tempos  passados, invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política.  Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar: a democracia é o  governo do povo. Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do  povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver  os programas de TV que o povo prefere.
A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica.        

Nada mais distante dos textos bíblicos.

Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas.        

Bastou  que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na  planície, se integrasse à adoração de um bezerro de ouro. Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os Dez   Mandamentos.
E a história do profeta Oséias, homem  apaixonado!

Seu  coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava!        

Mas ela tinha outras idéias. Amava a prostituição. Pulava de amante e amante  enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão.

Até que  ela o abandonou.

Passado  muito tempo, Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos. E o  que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como escrava. Oséias não  teve dúvidas. Comprou-a e disse: "Agora você será minha para sempre.".

Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus.        

Deus  era o amante apaixonado. O povo era a prostituta. Ele amava a  prostituta, mas sabia que ela não era confiável.

O povo  preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas  lhe contavam mentiras.
As mentiras são doces; a verdade é  amarga.
Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo.

No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões.        

E como  o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos!

As coisas mudaram.

Os  cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do  circo.

O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em  praças públicas.

As  praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando com o cheiro  de churrasco e os gritos.
Reinhold Niebuhr, teólogo moral  protestante, no seu livro "O Homem Moral e a Sociedade Imoral" observa  que os indivíduos, isolados, têm consciência. São seres morais. Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem.

Mas  quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções  coletivas.

Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um grupo tornam-se capazes dos atos mais cruéis.        

Participam  de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar  uma bomba no meio da torcida do time rival. Indivíduos são seres morais. Mas o povo não é moral. O povo é uma prostituta que se vende a preço  baixo.
Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional,  segundo a verdade e segundo os interesses da   coletividade.

É sobre  esse pressuposto que se constrói a democracia.

Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado.        

O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão.        

Quem  decide as eleições e a democracia são os produtores de  imagens.

Os  votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais  sedutoras.
O povo não pensa. Somente os indivíduos  pensam.

Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade.

Uma  coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos  trabalham.
Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam  no povo.

Jesus  foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.
Durante a  revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos  em nome da verdade proletária.

Não sei  que outras coisas o povo é capaz de queimar.

O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer.

O povo,  unido, jamais será vencido!

Tenho vários gostos que não são populares. Alguns já me acusaram de gostos         aristocráticos. Mas, que posso fazer?

Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio, gosto de churrasco; não gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol.

Tenho  medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e a engolir sapos e a brincar de  "boca-de-forno", à semelhança do que aconteceu na  China.

De vez  em quando, raramente, o povo fica bonito.

Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe  uma canção e o povo escute: "Caminhando e cantando e seguindo a  canção.". Isso é tarefa para os artistas e educadores.
O  povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.

Rubem Alves - colunista da Folha de S. Paulo ...

Um comentário:

  1. Concordo com a maior parte do que é dito, apenas me diferencio no tocante ao futebol. Adoro assistir uma boa partida de futebol.

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