''DO NOT ABANDON YOUR BEST FRIEND''

O CÃO É O ÚNICO QUE NÃO SE IMPORTA SE VOCÊ É RICO OU POBRE, BONITO OU FEIO. O CÃO É O ÚNICO QUE REALMENTE SENTE A TUA AUSÊNCIA E SE ALEGRA DE VERDADE COM O TEU RETORNO, PORTANTO, JAMAIS ABANDONE SEU MELHOR AMIGO.



UM RAIO DE LUZ

''UMA ANTIGA LENDA DIZ QUE QUANDO UM SER HUMANO ACOLHE E PROTEGE UM CÃO ATÉ O DIA DE SUA MORTE, UM RAIO DE LUZ, QUE NÃO PODEMOS ENXERGAR DESTE PLANO DA EXISTÊNCIA, ILUMINA O CAMINHO DESTE SER PARA SEMPRE!''





domingo, 22 de agosto de 2010

EU FUI UM DOS ''MALDITOS'' DO BICHO DE SETE CABEÇAS


Hospital Psquiatrico do Bom Retiro - Curitiba

Uma foto mais antiga, mas creio ter sido nesta época
minha passagem pelo local.
Uma passagem que me engrandeceu como pessoa.
Por volta de 75 fui internado por meus pais neste
lugar. Uso de drogas e uma grande depressão e confusão
mental me levaram até lá.
Sempre neguei o uso de drogas, mas creio que pais percebem
bem mais do que os filhos acreditam que estes percebem.
Enfim, este lugar me
ensinou muito e devo agradecer a existencia deste lugar por
ter de certa forma me ajudado a ser a pessoa que me tornei.
Não sou perfeito, mas posso dizer que me tornei um bom ser
humano. Apenas isso.

Alguns dias depois de estar internado conheci Austregésilo
Carrano Bueno, autor do livro O Canto dos Malditos, livro que
há alguns anos atras virou um famoso filme chamado Bicho
de Sete Cabeças, estrelado por ninguem menos que Rodrigo Santoro.
Austregésilo estava passando por lá em sua segunda internação.
Ja estava começando a trabalhar em seus escritos que anos mais
tarde resultariam no livro e no filme.
Eu jamais chamaria o livro de ''Canto dos Malditos'', chamaria
sim, de O Canto de Seres Esquecidos.

As pessoas ao qual ele se refere como ''malditos'', não eram
em absoluto malditos. Malditos sim, eram aqueles que muitas
vezes os abandonavam naquele lugar para serem esquecidos.
Mas infelizmente, Austregésilo tinha apenas a sua própria visão,
era um revoltado pela sua condição e passou a vida tentando
agredir e acabar com esta e outras instituições psiquiátricas.
Ele poderia ter escrito uma obra de arte, caso tivesse optado
em escrever sobre os seres humanos deste lugar.

Em seu livro posso me considerar um de seus personagens. Há uma
passagem na qual descreve ''a elite'', que todas as noites ficava
jogando baralho com os enfermeiros. Eu era um desta elite, o cara
podia ao menos ter citado meu nome, quem sabe eu não teria ganho
um papel no filme?

Brincadeira, eu via a coisa toda de uma maneira muito diferente.
Aprendi a viver com pessoas diferentes, com problemas diferentes,
chorei com algumas, dei risada e alegrei algumas. Lembro que um
dia chorei junto com Austregésilo também. Cresci como
pessoa em meio a muita dor e mentes perdidas em esperança e amor.

Lembro o caso do Luisinho, ele era um deficiente mental, devia ter
uns 25 anos mas era como se fosse uma criança de tres anos.
Luisinho fazia suas necessidades nas calças e não tinha hora para
isso acontecer e nem sempre os enfermeiros estavam por perto. Lembro
que algumas vezes pude ajudá-lo. Eu o levava ao banheiro, tirava sua
roupa, lhe dava um banho e ia correndo procurar um enfermeiro para
que este trouxesse toalha e roupas limpas. Luisinho ficava novamente
feliz e cheiroso.

Lembro de um jovem pai de santo, internado por ser obcecado pela
umbanda e por problemas com bebidas, certo dia ele bebeu o meu
perfume que eu havia ganho de presente. Ele era divertido e tentou
me ensinar algumas músicas do candomblé. Lembro do começo de uma,
era mais ou menos assim: ''é meia noite o galo canta e etc...''
Nos tornamos bons amigos e ele acabou saindo antes de mim.
Lembro que desde o inicio procurei me tornar útil neste lugar,
ajudava os enfermeiros na limpeza, fazer as camas, enfim, no que eu
podia ajudar, ajudava.

Não escrevi um livro sobre o lugar. Nunca me revoltei com
aquele lugar.Apenas percebi, que poderia ser e fui útil neste
lugar e percebi o quanto as pessoas naquele hospital faziam
para ajudar estas pessoas.

Existia o famoso ''choque elétrico''? Existia sim. Assisti
escondido algumas aplicações e posso dizer que não devia ser
nada agradável. Mas era aplicado apenas em casos extremos.
Quase mais como uma punição aos mais revoltados e olha que
estes existiam. Mas em alguns casos estas revoltas não
tinham uma justificativa, era pura e simples rebeldia e
Austregésilo era um dos que era assim.Lembro que sempre após
esta triste terapia, quem a recebia ficava horas distante do
mundo e da realidade. As vezes gostaria de ter experimentado.
Certo dia eu estava muito agitado, nervoso e chateado, não me
lembro a razão. Sei que um enfermeiro percebeu meu estado e me
chamou em particular e me deu um comprimido. - Toma, disse ele,
voce vai se sentir melhor depois.
Até hoje não sei qual foi este remédio, mas por horas fiquei
andando como se estivesse andando sobre as nuvens. Santo remédio!

Austregésilo faleceu há alguns anos atras. Pena, gostaria
de ter tido a chance de conversar com ele sobre isso, tentar
entender a razão verdadeira de sua revolta por um lugar que
nada mais fez e faz do que ajudar pessoas.
Mesmo assim, descançe em paz Austra!

Nos fundos do hospital existe um lindo bosque onde
eu costumava passar horas sonhando acordado.
Sonhava com o futuro e ele chegou, mas é um futuro
ainda melhor do que com o qual eu sonhava.
Não sei o que aconteceu com os personagens com
os quais convivi neste lugar.
Sei que alguns ja faleceram, como o sr. Hildefonso
e outros.
Mas todos foram amigos, dividimos histórias, sorrisos e
lágrimas em momentos ruins de nossas vidas.
Agradeço aos enfermeiros que me deram a liberdade de poder
ter sido útil e ajudá-los da minha forma.
Não eram enfermeiros, eram amigos, apenas amigos.

Uma cena de Rodrigo Santoro no filme
O Bicho de Sete Cabeças

Austregésilo Carrano Bueno
autor do livro "O Canto dos Malditos."

"PODEMOS VIVER A MESMA HISTÓRIA MAS,
SEMPRE TEREMOS DIFERENTES PONTOS DE VISTA
SOBRE O QUE DE FATO ACONTECEU."
(Siegmar)

3 comentários:

  1. Boa Noite, Mano... Li seu texto sobre o episódio de sua vida. Já nem mais me lembrava dos detalhes... Foi uma época de angústia pra todos nós, mas o importante disso tudo é que você venceu! E como você terminou seu texto: "sempre teremos pontos de vista diferentes obre o que de fato aconteceu"... Me comovi ao ler seu relato sobre o menininho a quem você ajudava. Você tem um coração gigante, Mano... Você possue o que falta à humanidade: SENSIBILIDADE! Eu te amo e tenho orgulho de ser tua irmã. Com amor, Valrita

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  2. Após ler seu texto o admiro mais ainda. Isso prova o seu caráter humanitário e maravilhoso. Eu tive um primo que ficou lá também e eu ia visitá-lo quase todas as semanas, mas creio que foi bem depois.
    Tere.

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  3. Exú Tranca Rua Das Almas
    Umbanda
    O sino da igrejinha faz: "belém", "blém", "blom"
    O sino da igrejinha faz: "belém", "blém', 'blom"
    Deu meia noite e o galo já cantou
    Seu Tranca Ruas é o dono da gira
    Oi, corre gira que Ogum mandou

    O sino da igrejinha faz: "belém", "blém", 'blom"
    O sino da igrejinha faz: "belém", "blém", "blom"
    Deu meia noite e o galo já cantou
    Seu Tranca Ruas é o dono da gira
    Oi, corre gira que Ogum mandou

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