''DO NOT ABANDON YOUR BEST FRIEND''

O CÃO É O ÚNICO QUE NÃO SE IMPORTA SE VOCÊ É RICO OU POBRE, BONITO OU FEIO. O CÃO É O ÚNICO QUE REALMENTE SENTE A TUA AUSÊNCIA E SE ALEGRA DE VERDADE COM O TEU RETORNO, PORTANTO, JAMAIS ABANDONE SEU MELHOR AMIGO.



UM RAIO DE LUZ

''UMA ANTIGA LENDA DIZ QUE QUANDO UM SER HUMANO ACOLHE E PROTEGE UM CÃO ATÉ O DIA DE SUA MORTE, UM RAIO DE LUZ, QUE NÃO PODEMOS ENXERGAR DESTE PLANO DA EXISTÊNCIA, ILUMINA O CAMINHO DESTE SER PARA SEMPRE!''





sábado, 11 de setembro de 2010

UM NOVO OLHAR SOBRE O GATO *** GALILEU *** Um pequeno mas completo manual sobre os gatos


Um novo olhar sobre o gato
Com seu ar enigmático, ele já foi associado a deuses e demônios ao longo da história. Hoje, após milênios de convivência com o homem, o bichano é o animal de estimação mais adaptado à vida moderna e um aliado considerável na hora de cuidarmos da nossa saúde
Paola Bello


Dona Luiza*, 65 anos, ficou viúva neste ano. Para piorar, não podia contar com o apoio dos filhos, que viviam distantes dela, física e afetivamente. Por conta disso, além de tremores nas mãos, passou a ter problemas estomacais, enxaquecas e dores musculares. Mesmo nesse estado, ela teve disposição para recolher um gato que fora atropelado na rua onde mora. O que era apenas um ato de solidariedade acabou virando uma estratégia que, em vez de uma vida, pode estar salvando duas.
Entre as idas e vindas ao veterinário, ela e o gatinho vira-lata começaram a participar de sessões de zooterapia. Nelas, percebeu que, ao assumir a responsabilidade de manter o animal vivo e bem cuidado, dona Luiza exigia saúde e bem-estar de si mesma. Em conseqüência, conseguiu purgar a perda do marido e resgatou o relacionamento com os filhos.

Casos como esse entram para a contabilidade que está ajudando os felinos a atenuar o estigma de interesseiros e anti-sociais. Com isso, ganham mais espaço nos lares. No Brasil, eles são um para cada 12 habitantes - há um cachorro para cada 6 brasileiros. Entretanto, veterinários, zooterapeutas e o mercado de alimentos para animais apostam na tendência de o gato se tornar o animal do futuro. Pudera, as famílias estão se tornando menos numerosas, os lares estão cada vez menores, e as pessoas estão passando muito menos tempo em casa. Se há um bicho que consegue se adaptar bem a esse quadro, é o gato, que vem dividindo o ambiente com os humanos há muito tempo.

Toma lá, dá cá
Apesar do temperamento de caçador solitário, o gato aprecia a proximidade com os humanos. E, claro, sabe que vai sobrar comida nesse açougue em Marrocos
Quando o homem começou a procurar um local para chamar de lar, lá estava o gato. Logo que desenvolveu a agricultura - entre 10.000 e 12.000 a.C. -, deixou de ser nômade e começou a estreitar os laços de amizade com os felinos. E tudo teve início como uma troca de favores: o homem passou a armazenar alimento; com a estocagem de grãos, vieram os roedores, que, por sua vez, atraíram os gatos. O mais antigo fóssil que comprova essa amizade é de 9.500 a.C. Descoberta em 2004, a ossada de um gato selvagem dividia a tumba com a de um humano. O achado derruba a tese de que os egípcios teriam sido os pioneiros na domesticação dos felinos, em aproximadamente 2000 a.C., já que o fóssil foi encontrado na ilha mediterrânea de Chipre.

Pelo tamanho da ossada, o primeiro amigo felino não devia ter mais de 8 meses de vida, o que indica que teria sido morto para acompanhar a dona após a morte. Porém, o indício mais forte da amizade consiste no fato de que, nenhum gato, de espécie alguma, é nativo da ilha de Chipre. Para a existência desse fóssil, a hipótese mais provável é a de que os próprios moradores da ilha viajaram cerca de 70 quilômetros, até a Turquia, onde adquiriram o animal e o levaram para a vila.

"Pesquisando os componentes genéticos de gatos selvagens da Europa, da Ásia, da África e do Oriente Médio, concluímos que realmente a domesticação começou na ilha de Chipre, com gatos provenientes do Crescente Fértil [região entre os rios Nilo, Tigre e Eufrates, onde iniciou a agricultura]", afirma Stephen O'Brien, chefe do laboratório de diversidade genômica no Instituto Nacional do Câncer, em Maryland, EUA.

De deuses a demônios
Séculos de convivência - e o ar enigmático dos felinos - fizeram com que, além de aliados, os gatos passassem a ser considerados um canal para diálogos com o divino. "No Antigo Egito, acreditava-se que eles tinham propriedades espirituais e que eram capazes de se comunicar com divindades", diz Elaine Evans, professora da Universidade do Tennessee e curadora do museu McClung (no campus da universidade, em Knoxville), que desde 2001 abriga uma exposição de gatos mumificados.
No início, os egípcios cultuavam os leões. O gato selvagem, que mais parecia um leão em miniatura, começou a ser introduzido na mitologia. Assim, os deuses passaram a ganhar atributos e temperamentos ainda ligados aos leões, mas adaptados ao comportamento dos bichanos.

"O gato representa a civilização, relação feita a partir da agricultura. Também representa o Sol, por ficar bastante tempo deitado na areia se bronzeando. Essas características foram atribuídas ao deus-sol Rê, metade homem, metade gato", afirma Antonio Brancaglion Jr., egiptólogo e professor no Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Quem mandou? A Inquisição condenou os gatos à morte. A Europa pagou caro por isso, pois, proliferando à vontade, os ratos disseminaram a "peste negra"
Com a popularização dos rituais fúnebres envolvendo a mumificação, os gatos passaram a acompanhar seus donos até a eternidade. A mais antiga múmia de gato conhecida data de 1.500 a.C. Apenas na cidade de Beni-Hassan, na margem leste do rio Nilo, mais de 300 mil múmias felinas foram encontradas. Também há registros de cemitérios gigantescos nos arredores do Cairo, com mais de 4 milhões de gatos mumificados.
Essa aura de adoração não ficou enterrada nas tumbas egípcias. Séculos depois, nas comunidades gregas e romanas, eram comuns imagens e cultos às deusas Háthor e Bastet. Baseados nessas duas divindades, os gregos também transferiram ao gato alguns atributos de Afrodite, a deusa do amor e do prazer sexual, e associaram a agilidade e a rapidez dos bichanos para a fuga a Ártemis, a deusa da caça. Da mesma forma, os romanos associaram a feminilidade felina à deusa Diana, da caça e da fecundidade, e relacionavam o bichano à deusa Vênus, da sensualidade e das emoções maternas.

Já na era cristã, a Inquisição veio para pôr um fim na paz entre humanos, gatos e divindades. "O bichano só começou a ser visto de forma negativa a partir do cristianismo, na Idade Média. Essa ligação maligna foi feita justamente porque era um animal atribuído aos deuses pagãos. Com a Inquisição, tudo que não era da religião católica era do mal e deveria ser queimado na fogueira", afirma Brancaglion. Profissões que tinham qualquer ligação com o gato também foram condenadas. As parteiras, por exemplo, usavam a deusa Bastet como símbolo e, por isso, foram tachadas de bruxas. No século 13, a perseguição foi ainda maior. Com a promulgação de bulas nas quais condenava os gatos, especialmente os de cor preta, associado ao satanismo, o papa Gregório IX determinou a exterminação de centenas de felinos.

A humanidade pagou caro por esse destempero da Inquisição. Com a redução da população felina, os ratos tomaram conta do pedaço. Falta de saneamento, condições precárias de higiene e tráfego de navios infestados de roedores ajudaram a deixar o século 14 marcado na Europa pela pandemia da peste bubônica. Transmitida através da picada de pulgas infectadas por ratos doentes, a "peste negra" dizimou cerca de um terço da população européia.
Se sob o catolicismo os gatos conheciam dias de cão, na cultura islâmica há relatos de que a vida de Maomé teria sido salva por seu felino de estimação. "Conta-se que o profeta estava em casa, e, sem que ele percebesse, uma cobra se aproximou para atacá-lo. Seu gato conseguiu matá-la antes do bote. Também fala-se que o profeta o teria acariciado na cabeça e o abençoado, e que, por isso, a partir daquele dia, os gatos começaram a cair sempre em pé", diz Brancaglion.
A amizade felina também influenciou a cultura nipônica. No Japão, o gato Maneki-Neko (aquele das boas-vindas, com uma das patinhas levantada) é símbolo de boa sorte. Reza a lenda que, há muitos anos, esse gato estava parado na frente do templo de Gotoku-ji. Ao ver um senhor feudal, teria acenado e atraído o homem para dentro, livrando-o de um raio que cairia logo depois. A partir desse dia, Maneki-Neko passou a ser considerado a encarnação da deusa da misericórdia.

O SWING DO BICHANO
Linguagem corporal dá dica do que se passa no coração e na mente do animal


1>>>Balançar a cauda - Ao fazer isso, um gato não está demonstrando alegria. Muito pelo contrário. Significa que está incomodado com alguma coisa ou pronto para o ataque
2>>>Massagear - O gato pressiona superfícies e movimenta as patas. Em geral, demonstra satisfação e contentamento. Filhotes fazem isso enquanto mamam
3>>>Rolar - Indica tanto que o gato não tem a intenção de atacar quanto que está submisso, embora a submissão felina indique mais afeição que obediência
4>>>Esfregar-se - Expressa afeição e demarcação de território. O contato quase direto com a pele faz com que o cheiro do bichano fique impregnado onde quer que ele se esfregue
5>>>Movimentar orelhas - A posição dos órgãos indica a vontade de participar das situações. Altas e viradas na direção do que está acontecendo, indicam interesse. Baixas e viradas para o lado oposto do movimento ou som demonstram indiferença
6>>>Miar - Há dezenas de miados. Variam de acordo com a situação e a intenção. Os mais longos e crescentes costumam indicar felicidade, os mais agudos e estridentes podem ser sinal de uma briga com outro gato
7>>>Ronronar - Quando afagados, os gatos ronronam para demonstrar deleite e reciprocidade
8>>>Morder - Serve para demonstrar afeto, agredir ou brincar. A que indica afeto costuma ser a mais delicada e ocorre enquanto o gato recebe carinho ou sente prazer com a companhia.

Os mutantes
Os gatos não contam apenas com aspectos etéreos como justificativa para terem virado um dos animais de estimação mais comuns no mundo. A ciência também tem seu papel. As mutações genéticas favoreceram o aumento na aceitação do bichano. Por meio de reproduções monitoradas, novas raças são desenvolvidas. "Há gatos como os da raça sphynx, que não possuem pêlos. Essa mutação foi mantida intencionalmente e virou uma opção para pessoas alérgicas", diz a médica veterinária Maria de Fátima Martins, professora na USP e especialista em zooterapia.

As mutações têm se mostrado eficazes na hora de mudar a forma, mas ficam devendo quanto ao conteúdo. Para Nicholas Dodman, especialista em comportamento animal e autor do livro "The Cat Who Cried for Help" ("O Gato que Gritou por Socorro", ainda sem tradução para o português), apesar de todo o histórico de convívio, nenhuma raça foi totalmente domesticada. "A razão pela qual os gatos nos toleram é que eles são criados por humanos desde pequenos. O período crítico de socialização é entre duas e sete semanas, fase na qual são moldados por nós. Gatos que viveram esse período sem contato com humanos nunca se sentirão confortáveis na presença de pessoas."

Já para a professora primária Kathy Hoopmann, autora de uma série de livros sobre comportamento infantil, a amizade com os gatos é possível, mas exige cuidados. Em seu livro "All Cats Have Asperger Syndrome" ("Todos os Gatos Têm Síndrome de Asperger", sem tradução para o português), ela compara os bichos a portadores da síndrome, caracterizada pela dificuldade no convívio social, mas sem afetar a parte cognitiva. "Pessoas com Asperger têm problemas em quatro áreas principais: comunicação, interação social e emocional, sentidos sensoriais e adaptação a mudanças. Os gatos dividem os mesmos traços. Não são animais sociáveis, tendem a escolher 'amigos' com cuidado."

MÁQUINA MORTÍFERA
Visão, audição e olfato aguçam o instinto fatal dos bichanos: trucidar presas


ORELHAS>>>As orelhas dos gatos são instrumentos de audição e de equilíbrio. Enquanto humanos possuem seis músculos auriculares, os gatos têm 30, o que permite que movam as orelhas de forma independente. Isso facilita a identificação das fontes sonoras
ÓRGÃO DE JACOBSON>>>Como outros mamíferos e a maioria dos anfíbios, os gatos possuem órgão vomeronasal, ou de Jacobson. Ele auxilia na percepção de odores e feromônios. Como o órgão fica no céu da boca, o gato contrai nariz e lábios para aspirar com mais intensidade
OLHOS>>>Adeptos de hábitos noturnos, os felinos possuem visão privilegiada. Não enxergam em escuridão total, mas vêem perfeitamente em ambientes com até um sexto da luz necessária para a visão humana. Isso se deve a uma membrana localizada atrás da retina. Ela age como um espelho e aumenta a reflexão da luz dentro do olho, ampliando a capacidade de visão
CAUDA>>>Cerca de 10% dos ossos dos gatos estão nela. Observa-se em alguns felinos, como o guepardo, que a posição da cauda favorece movimentos durante as caçadas. Tanto para ganhar velocidade (quando alinhada ao corpo, diminuindo a resistência do ar), quanto no equilíbrio (esticada para o lado oposto ao de uma curva), a cauda favorece a manutenção do equilíbrio sem perda de velocidade
NARIZ>>>Enquanto humanos têm cerca de cinco milhões de células receptoras, os gatos contam com 19 milhões. Associado à visão e à audição, o olfato é uma importante arma para identificar presas e inimigos a distâncias consideráveis
BOCA>>>Carnívoros, os gatos possuem dentes desenvolvidos para matar e comer as presas. Os caninos são bem maiores que os demais, e os molares são pontiagudos, para destroçar a carne em pedaços fáceis de engolir. Na fase adulta, o gato possui 30 dentes permanentes. A língua é bem mais áspera e menos úmida que a de um cão. Essa característica ajuda a desprender com mais facilidade a carne dos ossos das presas
BIGODES>>>Gatos possuem alguns pêlos diferenciados, mais longos e espessos, chamados de vibrissae ou pêlos táteis. Esses "bigodes" estão localizados na face, nas sobrancelhas e atrás das patas dianteiras. São compostos por material inerte e não contêm nervos, mas possuem células receptoras associadas a eles. São diferenciados dos outros pêlos do animal principalmente por possuírem cápsulas sangüíneas ligadas aos folículos, próximos à base de nascimento. Por serem extremamente sensíveis, esses pêlos auxiliam tanto na identificação de alguma presa quanto na percepção de espaço e direção
UNHAS>>>Para eles, a principal utilidade das unhas é a defesa. Além de utilizá-las para um ataque ou caçada, os felinos desenvolveram, ao longo da evolução, a capacidade de retraí-las. Essa característica evita que se desgastem com o caminhar e ajuda a mantê-las sempre afiadas

Mesmo com essas peculiaridades, a amizade entre humanos e felinos é totalmente possível. Quando feita gradativamente, respeitando os limites dados pelo animal, a aproximação pode fazer dos gatos bichos dóceis e sociáveis. Uma forma fácil de interação é a observação da linguagem corporal. "Esfregar a cabeça, por exemplo, é um sinal de afeto, do mesmo modo que o piscar enquanto olha para alguém. Miados mais curtos são sons de felicidade, enquanto que pupilas dilatadas indicam medo. Se um gato estiver com os pêlos arrepiados e com a cauda ereta, indica medo e potencial agressão", diz Dodman.

Segundo Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal e autor de livros com dicas de comportamento e adestramento, é importante lembrar que gatos são bichos de comportamento peculiar. "Há pessoas que levam um gato pra casa e esperam que ele se comporte como um cachorro, que não suba nos lugares e que obedeça a todas as ordens", afirma. No livro "Os Segregos dos Gatos" (recém-lançado pela Editora Globo), Rossi decifra algumas características específicas dos felinos. "O gato não obedece a uma ordem simplesmente por obedecer. Ele precisa confiar na pessoa e ter uma recompensa pela obediência. Enquanto os cães possuem predisposição natural para receber ordens, já que evoluíram de bandos em que a hierarquia era fundamental, gatos sempre foram caçadores solitários, nunca dependeram do grupo para sobreviver." Rossi também reforça a importância da educação do animal sem violência. "Cachorros são capazes de tolerar a agressão enquanto são adestrados e ainda assim continuam amando seus donos. Gatos, não."

A paciência com os hábitos felinos podem trazer recompensas para o dono. A primeira delas seria para a saúde. Segundo Dodman, os gatos ajudam a aliviar alterações negativas de humor em um nível equiparado apenas à companhia humana. Também auxiliam a diminuir a pressão arterial e o colesterol.

"ELES NÃO SÃO ANTIPÁTICOS, MAS INSTINTIVOS"
Para Alexandre Rossi, autor de "Os Segredos dos Gatos", obsessão pelo controle do território faz com que muitos pensem que os bichanos são egoístas e que se importam mais com a casa do que com os donos
De um lado, os gatos são considerados auto-suficientes a ponto de ignorar seus donos. Por outro, há quem defenda que eles são carinhosos como os cães. Para mostrar quem tem razão nessa história, Alexandre Rossi está lançando o livro "Os Segredos dos Gatos" (Editora Globo). Especialista em psicologia animal e autor de best sellers sobre cães, ele escreveu uma obra que, além de assuntos como características físicas e comportamentais e cuidados com alimentação e higiene, traz dicas sobre adestramento.


Galileu: O perfil do dono de animal de estimação vem mudando. Como os gatos têm acompanhado isso?
Alexandre Rossi: O gato é considerado o animal do futuro. Ele é capaz de se adaptar com muito mais facilidade à vida moderna. Hoje temos famílias pequenas, casas e apartamentos menores, e passamos grande parte do tempo fora do nosso lar. O cachorro sente muito a solidão; o felino, não. A pessoa pode trabalhar o dia todo, viajar no fim de semana, e o gato não sente tanto. Geralmente as pessoas que gostam mais de bichanos são as que querem um animal mais independente, que não seja tão grudado como o cachorro. Além disso, ele inspira mais liberdade, mais elegância e mais naturalidade justamente por não ser um animal tão domesticado.

Galileu: Há quem diga que os gatos só se aproximam das pessoas por interesse.
Rossi: Eu discordo. Há pessoas que acham que o gato se importa muito mais com a casa onde ele vive do que com os donos. Isso ocorre porque ele é obcecado por ter controle do território e, enquanto isso não acontece, ele fica incapaz de demonstrar afeição e carinho. Não há nada de antipatia, mas de instinto. No ambiente natural, o gato é predador, mas também é presa. Mesmo em casa, ele tem de saber pra onde ele pode fugir se acontecer algum problema e quais são as ameaças ao redor. Enquanto ele não domina o território, qualquer um que tentar impedi-lo de alguma ação poderá ter uma resposta agressiva.

Galileu: O que uma pessoa precisa saber antes de levar um gato para casa?
Rossi: Primeiro, que o gato é um animal que explora os ambientes tridimensionalmente. Ele sempre vai subir na pia, na geladeira, no microondas, e é importante que ele tenha esse acesso. Não adianta ter um gato e querer limitá-lo ao chão, como se fosse um cachorro. Muitos também pulam janelas, o que obriga o dono a colocar telas. Também é importante lembrar que alguns são bastante barulhentos durante o cio. A gata siamesa é a que mia mais alto nesse período. E é necessário também saber se a pessoa que pretende ter o gato não tem alguma reação alérgica à proteína que existe na saliva dele.

Galileu: Como no caso dos cães, há diferenças de comportamento entre as raças?
Rossi: O comportamento e a estrutura do gato não são tão variados quanto os dos cães. O siamês, por exemplo, costuma ser mais agitado e barulhento, enquanto o persa é mais tranqüilo e silencioso. Geralmente, os mais ativos acabam, por tentativa e erro, descobrindo e aprendendo mais coisas. Por isso, são considerados mais inteligentes.

Galileu: Quais são os principais desafios na hora de educar um gato?
Rossi: O gato é mais difícil de ser treinado, acima de tudo, porque ele deve ser educado em um ambiente que conheça. Você não pode pegar um gato e levar pra um lugar onde haja um treinador. Enquanto ele não estiver adaptado ao ambiente, não vai prestar atenção nas pessoas. Também é difícil porque carinhos e brinquedos não costumam ser boas recompensas para o gato; o petisco é mais usado, mas ele demora mais para comer, o que não permite tantas repetições de exercícios de treinamentos quanto com cachorros.

O gato não consegue ser educado com reforços negativos. Com cachorros, há reforços como colocar um enforcador e apertar o traseiro pra ele sentar. Se isso for feito com o gato, ele vai passar a não gostar da pessoa que o treina. Por outro lado, por meio do reforço positivo, o gato vai se aproximando, se tornando cada vez mais sociável. O cachorro ainda tolera a agressão porque depende muito do ser humano e é capaz de, mesmo assim, continuar amando o dono. O gato, não.

Zooterapia: Cuidar de um bichano vira um desafio positivo para idosos. A manutenção do animal é uma motivação para esticar a própria vida
Na alegria e na tristeza

Introduzida no Brasil entre o final da década de 1940 e início da década de 1950 no tratamento de pacientes com esquizofrenia, a zooterapia, ou terapia assistida por animais, teve como seu primeiro colaborador o gato. Hoje, vários outros animais foram incluídos na prática. "O gato é mais sutil, mais reservado. De uma maneira geral, ele mede mais as conseqüências e respeita mais os limites dados pela pessoa. E isso influencia muito nas terapias", afirma psicóloga e veterinária Hannelore Fuchs.

Trabalhando com zooterapia há 15 anos, em São Paulo, ela coleciona casos bem-sucedidos. Uma vez por mês, Hannelore e a gata Frida visitam uma escola de educação especial em São Paulo. Com crianças, o foco do trabalho e dos estudos está ligado à cognição, à conduta e ao desenvolvimento físico e motor. Há casos de crianças com dificuldade em abrir as mãos que desenvolveram ou retomaram esse controle devido ao esforço feito para poder acariciar um gato.
Desde 1999, a professora Maria de Fátima estuda a interação entre homem e animais. "Com a zooterapia, observamos que essa interação melhora o ambiente social, a qualidade de vida do ser humano e, conseqüentemente, do animal." Segundo ela, o gato na zooterapia funciona como uma ponte entre paciente e terapeuta. No consultório de Hannelore, os animais ficam soltos e transitam entre uma consulta e outra. "Dependendo da afeição do paciente pelo gato, ele começa a fazer parte da consulta", diz a psicóloga
Assim, casos como o de dona Luiza, a mulher do começo desta reportagem, estão se tornando cada vez mais comuns em asilos e entre idosos abandonados. "Para eles, o gato vira um desafio positivo", afirma Hannelore. "Gerenciam a rotina do animal, sentem-se responsáveis pela vida do bicho. Isso faz com que o idoso deixe um pouco o papel de ser cuidado e passe a ser o 'cuidador'. Por meio do convívio com o gato, a vida do idoso passa a ter uma motivação maior."

BALAIO DE GATOS
À noite, todos podem ser pardos, mas diferença é o que não falta entre os bichanos. Descubra aquele que tem a sua cara





Um comentário:

  1. Sieg isso é uma verdadeira monografia sobre os gatos. Muito bonito, interessante e ilustrativo.
    Tere

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